sexta-feira, 3 de abril de 2015

A dor de uma despedida

Eventualmente eu choro. Não como as pessoas que conheço, que se debulham em lágrimas ou coisas do tipo, mas de escorrer algumas gotas e sentir o corpo tremer. É um defeito meu estranho, uma trava que não permite me expressar. Mas nem por isso eu deixo de ficar triste, de ter angústia, de precisar d de um ombro amigo. Mais uma vez a escrita me serve de tratamento, de válvula de escape e... gente, eu ADORO isso. O texto que trago hoje, e sei que tá bem tarde pra isso, é uma pequena ode às idas e vindas de relacionamentos. Todos ficamos tristes quando acaba, mas sempre há uma chance de trazer algo de bom.

Hora de Partir

O sol se punha naquela tarde com tanta preguiça que talvez fosse meia-noite antes que sumisse no horizonte. As próprias flores, movidas pelo vento, dançavam lentamente, como uma valsa romântica. No imenso jardim apenas duas sombras se destacavam, cobertas por uma árvore de tamanho colossal, tão alta quanto a lua e tão antiga quanto o céu. Abraçadas, embalam um balanço em que não deveria caber nem um adulto, mas comporta-as igualmente.
Lágrimas correm de seus olhos, pensando em todo aquele tempo juntos. Sabem que logo irão se separar e continuar com seus destinos, ocasionalmente se encontrando em um solstício ou outro, mas nunca mais como agora, naquele momento tão especial. A brisa morna se aquieta, tornando-se gélida e logo abrirá espaço para uma pavorosa ventania. Os corpos se apertam para compartilhar o calor.
- Eu não queria te deixar ir. – é o que diz ela e recosta a cabeça em seu colo – Não posso pensar em aguentar os meses que virão.
- Não posso evitar, sabe disso. Se fosse por mim não haveria Inverno ou Primavera, faria calor para você sempre. Te traria os prazeres de uma chuva fresquinha, talvez até torrencial, e teria sempre como tomar um bom sorvete.
- Mas então os casais não teriam seus momentos especiais, e o amor acabaria se tornando só nosso... não quero isso.
- Eu não me importaria em ser mais egoísta. Dizem já que sou o maior de todos mesmo, que trago apenas sede, cansaço e suor...
- Não diga isso. Sabe que te adoram. Sem você as pessoas não sentiriam calores e “calores”. Eu mesma não existo a não ser que você faça as plantas terminarem seu ciclo. Para minhas belas folhas bronzeadas preciso que você dê algum trabalho a elas.
- Mesmo assim... não quero ir.
Ambos encostam as testas. Os cabelos dele, tão loiros e curtos, quase não tocam sua fronte, enquanto os dela, ruivos, caem em mechas manchadas de castanho sobre seus olhos cor de caramelo. Juntos, tão diferentes, parecem se completar. São as íris azuladas, cor de mar dele, que trazem conforto a ela diante dos dias que terá que aguentar o frio e a solidão. Não que seja culpa do belo Inverno, com seus cabelos negros ou seus olhos cinzentos. Mas perto de seu namorado não há como pensar em se entregar ao seu abraço glacial.
- Verão, me perdoe se eu parecer estar gostando. Sabe que em certas horas eu e Inverno estaremos muito próximos.
- Sim, assim como eu e Primavera. Eu confio em você, meu amor, e não importa o quanto eu esteja enciumado, minha paixão por você é mais forte.
- Obrigada... obrigada por tudo. Prometo lhe esperar, e que quando você chegar eu tentarei me lembrar de você. Não deixarei que nosso amor seja esquecido, como vários outros que iniciam em sua estação.
- Eu sei que não. Estou apaixonado por ser apenas culpa do meu fogo.
- Eu também.
- Estou indo, Outono... até daqui a nove meses...
- Eu estarei aqui, nesse mesmo balanço...
- Eu... vou... lhe buscar...

E enquanto o sol finalmente se punha e a lua surgia brilhante no céu escuro, Outono derramou mais duas lágrimas que se transformaram em fractais de gelo antes de quebrarem no chão. O vendaval se aquietou e uma presença gelada denunciou a chegada de Inverno. Era hora de seguir em frente por mais um ano.

2 comentários:

  1. Ahh, esse é lindo. Lembro de quando eu li a primeira vez e finalmente caiu a ficha de que eram as estações, muito fofo.

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    1. Achei que gostaria de vê-lo aqui, eu adorei escrevê-lo!

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