quarta-feira, 17 de abril de 2013

Mulheres Fatais

Noir, uma noite sombria, um crime sem álibis, uma mulher fatal, um detetive tolamente atraído por ela... É um dos climas mais estilosos que existem por aí, que envolve geralmente casos policiais sem grandes mistérios, a não ser as reais identidades de seus personagens. Maioria das vezes eles se escondem em várias camadas, mas quase inevitavelmente aquela mulher voluptuosa de curvas sinuosas é sim uma mulher fatal, que vai tirar tudo que puder do detetive... Até seu sangue... Este conto escrevi pra compôr meu projeto (em parceria com a Ann): Lua Macabra. Uma série de contos, curtos ou longos, com mulheres desse naipe, com lingerie e com muito sobrenatural. Espero que apreciem o aperitivo!

Novamente uma imagem que não é minha, mas representa muito bem! Esta é a Lady Lestat!




Femme Fatale

A cena de crime perfeito: O corpo, deitado sobre a cama bagunçada, completamente inteiro, os olhos abertos e uma taça de vinho na mão. A janela e a porta trancadas. Nada mais fora do lugar. Na recepção, os atendentes juraram, só havia entrado o falecido. Infarto fulminante. Mas nenhuma gota de sangue no corpo.
Completamente absorto, o detetive James Wayne procurava por indícios de arrombamento ou do uso de ferramentas para drenar o morto. Nada, nem uma gota de sangue nos lençóis. Pegou mais uma vez o bloquinho de notas e rabiscou algumas informações. Grunhiu e pediu a um dos oficiais que lhe trouxesse um café. Preto, com muito açúcar. Dane-se a dieta, pensou, e então chamou o legista, que veio com uma cara de desespero. Trinta anos de profissão. Nada igual. Perderia o emprego.
- Diga-me, como é possível?
- Não sei, Jim, eu estou alucinado. Verifiquei o corpo três vezes já. Nem um furo, nem um corte. Parece que ele simplesmente não tinha sangue. Está pálido como se estivesse morto há anos. Nem sei se posso chamar isso de assassinato.
Mas foi, o detetive tinha certeza. Colocou o lápis na boca e saiu, resmungando que não queria ser seguido. Encontrou o policial do lado de fora, o café na mão. Chegou à recepção e pediu aquelas fitas para ver em reservado. Deram-lhe uma das salas de conferência. Enquanto tomava seu café, via mais uma vez o homem, um desses novos ricos da faixa dos quarenta, entrar alegre no hotel e passar reto pela recepção. Não tinha devolvido o cartão, então não precisaria pegar de volta. No elevador, ele parecia gargalhar e falar com alguém, mas estava sozinho. Logo ao entrar no quarto colocou o aviso de Não Perturbe. Estava, claramente, bêbado. Fora filmado falando várias vezes sozinho.
James soltou o copo do café, de repente percebendo um pequeno detalhe na tela. Em dado momento, uma das folhagens mexeu-se sem ninguém tocar nela. Correu para fora e tomou o elevador. Chegando ao andar do assassinato parou para observar as extremidades do corredor. Nenhuma janela. Completamente isolado. Então... O que mexeu a folhagem? Procurou o bloco de notas e nele o que tinha dito o assistente do falecido: O patrão tinha poucas reuniões de negócios no dia, e apenas uma festa à noite. Festa fechada. Entrou e saiu sozinho. Isso fora às 22h. Ele voltou ao hotel às 24h. Onde esteve enquanto isso? Pegou a dica com uma das camareiras. Disse que o homem havia perguntado de bares na região e um dos mensageiros sugeriu o do Ritz, próximo. Ela reprovara, mas e daí? Era apenas uma empregada e se ouviam ou não, não importava. Ele pegou a viatura e partiu para o Ritz, com uma foto do morto em punho.
Perguntou a muita gente, a maioria estava ali pela primeira vez. Não era um bar muito frequentado por repetentes. Iam apenas aqueles que estavam no hotel ou não tinham opção melhor. Realmente, a camareira estava certa. O barman reconheceu, ele havia pedido duas doses de uísque e então mais duas para ele e uma moça que o encontrara. Conversaram por uns dez minutos e saíram, rindo. Quando pediu as filmagens da noite, um susto. O defunto estava lá, rindo abobalhado, mas em momento algum a moça apareceu. Ao fim, ele saía sozinho, parecendo um rei recém-coroado. Pediu uma descrição ao barman, que não soube dizer nada com precisão. Tinha traços diferentes e uma pele pálida. Olhos grandes, os cabelos louros presos de forma estranha. Achava que vestia azul, mas podia ser roxo ou verde. Nenhuma certeza. Frustrado, o detetive deixou o bar.
Distraído, caminhou devagar pela rua, até chegar à enorme porta do hotel. Quase foi atropelado por uma comitiva de seguranças, que resguardavam algum homem importante. Viu que era um ricaço, desses com alguns anos de carreira, tanto nas ações quanto nas infrações, e que estava acompanhado de uma belíssima loura, em um vestido azul-marinho. Os cabelos dela se erguiam em um coque muito antiquado para alguém tão jovem. Ela sorria abertamente e falava coisas que faziam o ricaço, pelo menos duas vezes a idade dela, gargalhar. A coincidência deixou o detetive preso ao chão, acompanhando com o olhar os dois entrarem em uma limusine, o velhote primeiro. Logo antes de entrar a loura virou-se para ele, sorrindo de forma assustadora. Ele pode jurar que tinham dentes pontiagudos naquele sorriso. Eles partiram e o detetive também.
Naquela noite, dando o caso como perdido, James tomava conhaque em casa, completamente desesperado. Sabia que ririam dele. Nem ao menos sabia quem era a loura. Ainda assim, queria ter algo para dizer aos chefes, não simplesmente fechar o caso daquele jeito. Uma ventania repentina invadiu sua sala e virou-se para a janela, que jurava ter trancado. Parada, encostada de forma displicente no espaço que dava para a rua, a loura o encarava, da mesma forma que antes. Parecia extremamente atraente, vestida apenas com a lingerie bordô, quase cor de sangue. Wayne engoliu em seco, consternado. Sentia o perigo subir pela espinha e descer, fazendo das pernas gelatina. Ela se jogou para a frente, caminhando para ele como uma felina, uma leoa prestes a fazer seu jantar. A cada passo, uma das peças caía. Primeiro o sutiã, depois a cinta-liga, as meias e enfim a calcinha pequena, praticamente sumindo na bagunça da sala. Ela tocou-lhe o peito e abriu a camisa, acarinhando o peito peludo do homem na casa dos trinta. Ele ficou completamente sem ar.
- Não fique assim, Jim. Eu só vim lhe fazer um agrado, já que lhe dei tanta dor de cabeça.
E ela fez mesmo. Sem qualquer controle sobre suas ações, a mulher lhe deitou no chão e cavalgou sobre ele, provocando-o a dominá-la, coisa que nunca conseguiu. Enfim, exausto e morto de medo, o detetive tomou coragem para procurar a arma, mas ela o empurrou com o pé, com uma facilidade sobrenatural, e ele foi lançado para o outro lado da sala. Atordoado, o homem só fez arfar, e ela riu.
- Ah, mas não vamos estragar nossa brincadeira já, não é, detetive Wayne? Eu estou à solta. Agora... Cace-me.
E dizendo isso ela correu para a janela e saltou, sumindo no céu noturno. Pasmo, James pegou-se pensando não no que acontecera, mas em como encontraria aquela mulher, linda, sedutora, fatal, e suas lindas presas afiadas. Tocou o pescoço e não se espantou de encontrar uma pequenina ferida dupla. Dois buraquinhos, de onde ela sugara seu sangue. A caçada apenas começara.

4 comentários:

  1. Gostei bastante, temos o detetive perfeito contra uma mulher morcego (não pude resistir xD).
    Só falta resolver a questão do Barman que deve ter algum nível de auspícios xD

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    1. Seu trocadalho valeu muito seu comentário. XD Quanto ao barman... Bom, eu retornarei a essa série em outro momento, então quem saiba possa apresentá-lo de verdade. ;)

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  2. Ah se apreciamos! Essa é a primeira aparição do Lua Macabra ao público, né? Aguardo muito o momento que esse projeto puder vir a tona de verdade...
    E esse bar é sacanagem... Será o mesmo daquele conto "Maldição"?

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    1. Opa! Já que tocou no assunto... XD Será esse que vou publicar hoje!

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